Diferença entre sensualidade,sexualidade e vulgaridade

23/01/2013 16:01

 

 

 

Não devemos classificar de sensual algo que não tem uma conotação sexual? O concreto curvo de Niemeyer nos inspira a pensar e a ousar.


A sensualidade que ele denota é o que buscamos para completar nossa capacidade de criar e de crescer. Sensualidade é vida, mas não necessariamente sexo.

 

Entretanto, quando ouvimos falar em sensualidade, a maioria de nós pensa em sexo, acreditando um ser sinônimo do outro. Não é correto, ainda que haja alguma verdade nesse pensamento, pois a sensualidade certamente pode ser considerada como um ingrediente essencial para uma experiência sexual mais rica. No entanto, enquanto sensualidade parece ser parte essencial do sexo bom, a sexualidade não representa a única esfera da expressão sensual. Sensualidade é muito mais abrangente. Ela começa com a consciência e abarca todos os nossos sentidos.

 

Ter um approach mais sensual nos leva a ter uma vida mais satisfatória e plena. Se você conseguir canalizar adequadamente seu estado mental, você poderá tornar qualquer experiência em uma experiência sensual. Comer um chocolate, apreciar uma refeição, meditar ou observar sua própria respiração ou a de alguém. Dançar, sentir o cheiro de flores, olhar para o rosto da pessoa amada. Qualquer coisa!

A sensualidade envolve uso dos sentidos, mas vai além, pois, quando você traz a experiência para o nível da consciência e da intuição, aquele momento transcende a sensação. Sensualidade é uma forma de permitir que a paixão e a reverência entrem em sua vida - uma vida que passa a ser mais gratificante e apreciada, até mesmo nos momentos mais difíceis.

 

O escritor americano James A. Baldwin disse que "ser sensual é respeitar e exultar a força da vida, da vida por si só, e estar presente em tudo o que se faz, desde o esforço do amor até a feitura do pão". E ele tinha razão, a sensualidade representa e enaltece a força da vida e todas suas dimensões. Há poemas sensuais, músicas, sorrisos, flores, animais sensuais.

 

Enquanto sensualidade é a qualidade de agradar aos sentidos, sedução poderia ser definida como a capacidade de atrair, encantar, fascinar o outro com o intuito de alcançar determinados objetivos. Visto dessa forma, a sedução faz parte das relações de todos os tipos. Não é só o garoto que deseja seduzir a menina por quem ele está encantado. As pessoas em geral, todos nós, sem exceção, buscamos seduzir nossos interlocutores para que haja melhoria na convivência e na qualidade de vida.

 

Da mesma forma, quando produzimos algo, buscamos seduzir. A propaganda utiliza-se da sedução para induzir ao consumo. Os poetas e escritores querem seduzir seus leitores para que estes não queiram largar seus livros. Os arquitetos, como o "rei das curvas" Niemeyer, buscam projetar prédios que tragam específicas sensações e transformem-se em objetos de desejo.

 

Nas ciências sociais, sedução é o processo de incitar deliberadamente uma pessoa para atraí-la. A palavra sedução vem do latim e literalmente significa "afastar alguém dos seus votos, da sua lealdade". Assim, concluímos que o termo possui uma conotação positiva, mas pode ter outra, negativa.

 

Quando vista pelo aspecto negativo, a sedução envolve tentação, normalmente de natureza sexual, para desviar alguém a uma escolha de comportamento que ela não teria não fosse tal estado de evocação sexual. Já vista pelo lado positivo, a sedução é sinônimo para o ato de encantar alguém através do apelo aos sentidos, com o objetivo de reduzir medos infundados.

 

A moralidade da sedução depende dos impactos que a mesma apresenta sobre os indivíduos envolvidos em longo prazo, e não no ato por si só. A sedução é algo recorrente na história e na ficção, como alerta para as consequências sociais que o comportamento de seduzir e ser seduzido apresenta, pois se trata de uma poderosa habilidade.

 

Sim, a sedução é uma alavanca poderosa que usa a sensualidade como seu forte ponto de apoio. Não é boa nem má. Depende apenas de que objeto está sendo deslocado por ela.

 

Mas cuidado com a linha que separa o sensual do vulgar. Essa linha existe, e é tênue. Com frequência é ultrapassada e, quando acontece, a mistura desanda totalmente. A vulgaridade é a tentativa de transformar a sensualidade no sujeito e não no predicativo.

 

Com frequência associada à imagem feminina, a sensualidade passou a ser explorada como um objeto que pode ter valor comercial. Não creio, sinceramente, que haja muitas distorções de valor maiores do que essa. O vulgar ofende, agride, enfeia. O vulgar não é belo, é desprovido de sensualidade.

 

A mulher moderna é sensual. Tem sido vista como aquela que conduz sua vida dentro dos parâmetros da estética maior, que tem a sensualidade como uma aliada. A sensual não se expõe, não se oferece, apenas é. A mulher moderna não está esperando ser salva por um príncipe encantado; dispensa, com certo desprezo, o complexo de Cinderela.

 

A sensualidade da mulher moderna está em sua postura, não nos pedaços expostos de seu corpo; está na convicção sobre seu direito à integridade, ao respeito, à oportunidade. Há sensualidade na firmeza de uma mulher, porque ela é suave, não ofende.

 

Há o sensual, o sexual e o vulgar. Podem habitar o mesmo continente, mas são separados por barreiras geográficas bem demarcadas. A vulgaridade é burra, a sexualidade é necessária, a sensualidade é divina. Não confundir esses territórios faz com que nossos caminhos pela sejam trilhados com mais segurança e com muito mais alegria.

 

Sensualidade é saúde, movimento suave, olhar plácido, sorriso sincero, palavra bem colocada. É o senso de beleza precisa, sem artifício, sem exagero, com cuidado, atenção. A sensualidade é a matéria-prima do poeta, e há quem o seja sem nunca ter escrito um verso. Sim, pois ser poeta na vida é ter apreciado a beleza do amor, é ter cantado o canto da paixão, é ter explorado o caminho sensual de uma relação sobre a qual se pode dizer que foi inteira.